Strategic Planning VP na FCB Brazil
É comum em rodas de publicitários, entre um papo furado e outro, presenciar celebrações espontâneas sobre os “gênios” indomáveis e polêmicos das agências, que lideram equipes inteiras na base do grito, da pressão e do repente. É curioso que no meio da roda quase sempre aparecem defensores fazendo valer a lei da compensação: quando é permitido ser um tirano graças aos espasmos de brilhantismo que, supostamente, equilibrariam a balança. É evidente que esses tiranos não são, de fato, brilhantes e que não se trata de uma exclusividade do nosso mercado. Mas parece que na publicidade isso é letra corrente, quase uma norma. É cultura.
Essa cultura parece ter sido criada silenciosamente. Talvez tenha se originado em uma época em que o mercado era menor e mais restrito, o que obrigava as pessoas a se sujeitar a esse tipo de comportamento se quisessem fazer parte do Country Club da Publicidade. De tão presente, essa cultura programa novos profissionais a se acostumar e os leva a acreditar que é dessa forma que as coisas são, sempre foram e sempre serão. A celebração de líderes, sublíderes e pseudolíderes, que enxergam pouquíssimo além dos seus próprios umbigos ególatras, para os quais todas as pessoas são descartáveis e substituíveis pelo próximo que se curvar ao brilho do ouro, nada mais é do que uma tristeza sem tamanho para aqueles que não aceitam mais esse tipo de tratamento e ambiente.
Por enquanto, o resultado é um mar de pessoas infelizes, imersas em tarefas dadas sem direito a opinião ou contraponto inteligente, expostas aos desejos, medos, sonhos de grandeza e/ou pequenos poderes dos supostos líderes.
Tais líderes, por estarem muito concentrados nos seus próprios umbigos, parecem estar à margem do que está acontecendo no mundo. E o número de pessoas que está percebendo o quão ridículos e atrasados são esses líderes só aumenta. E é justamente por não entenderem que tudo isso está mudando rapidamente é que eles serão abandonados sem aviso prévio. Serão abandonados por uma nação descontente que não aguenta e não aceita mais esse tipo de relação “mestre & servo”, e, o mais importante, porque estamos num mercado criativo muito mais excitante, diverso e complexo, que vai muito além das agências de comunicação. Olhe para o lado e você verá um contingente cada vez maior de pessoas interessadas em ser qualquer outra coisa num futuro próximo, menos continuar sendo publicitário (se continuar deste jeito).
A boa nova é que no nosso mercado está crescendo o grupo formado por novos líderes que, justamente por terem sofrido as dores desse tipo de relação, estão, ainda que intuitivamente, desejosos por matar esse ciclo vicioso e retrógado agora que chegou a sua vez. Finalmente, o tardio, mas urgente e necessário, contraponto à cultura vigente toma corpo.
Bom, e você, de que lado você está? Fácil saber. Você já pensou seriamente no impacto humano das suas decisões como líder? No impacto do seu pedido inútil? No impacto das suas inseguranças? Na força negativa do seu grito mimado? Na sua má-educação? Na sua ganância pelo rico dinheirinho no final do ano? No seu distrato recorrente àqueles que trabalham para você e por você? Se você nunca pensou nisso, já é mau sinal. E se você está enervado com este texto, pior ainda. Ah, e não vale ter pensado nisso para “reter os melhores talentos”. Isso é muito mais profundo do que uma técnica de retenção.
Você deveria pensar nisso porque você é humano e, como humano, reconhecer o humano nos outros: seus medos, inseguranças, dúvidas, sonhos e limitações. Não é sobre dinheiro ou sucesso pessoal. É sobre fazer a sua parte para criar um mercado onde todos podem ser felizes e, por estarem felizes, ser muito mais prósperos e criativos.
Se você é daqueles que defendem esses líderes nas rodas de conversa, pense que, apesar de parecer inocente, sua atitude só serve de impulso para que o comportamento continue existindo. Entenda que absolutamente nada justifica transformar um monte de gente inteligente em um monte de capachos acéfalos. Se não concorda com a falta de humanidade e felicidade no ambiente de trabalho, abandone a tal lei da compensação do seu discurso de defesa aos narcisistas ególatras. Eles não merecem seu esforço, apenas o desdém a seus métodos já bastante antiquados. É um fato inequívoco que ninguém precisa ser tirano para ser um líder forte e marcante, em qualquer mercado.
Enfim, viva a felicidade compartilhada, onde eu, você e todo mundo pode ser feliz naquilo em que decidiu trabalhar. Afinal, é errada a lógica de que para ser um vencedor é preciso fazer dos outros um bando de perdedores.