Seja idealista, mas não seja inocente

POR

Andre Torales

Planejador.

Você é um(a) profissional em ascensão e com trabalho reconhecido pelo mercado.

É um dos clever guys da firma: cheio de ideias, referências e tendências.

E a cada briefing recebido, enxerga uma oportunidade de construir um case incrível.

Por isso, você se fecha no seu mundinho para mergulhar nas pessoas que se relacionam com esse segmento, o mercado, a concorrência, as tendências, tem um insight animal, conta uma história genial, chega o “grande dia” e…

Não, não era nada disso.

Então todos envolvidos no projeto (inclusive você) sentem uma puta frustração com todo aquele trabalho sendo remendado, ainda mais com toda expectativa que geralmente criamos.

E é aí que entra o aprendizado que eu, particularmente, nunca tinha considerado e que, sem ele, já me frustrei em vários projetos: seja idealista (sim, seja auto-motivado, faça daquele projeto ainda melhor que o último), mas não seja inocente.

O que é não ser inocente? Por mais que você queira emplacar um Titanium em todo briefing, em certos casos, você é a única pessoa que deseja (ou está pensando) nisso. O contrário também acontece: os times querem mudar o mundo e você precisa conciliar com outras dez pautas: tudo é questão de adequar expectativas.

Portanto, acredito que existam três atitudes simples, mas que ajudam bastante ao projeto ter expectativas alinhadas: do tamanho que você sonha e empoderam a sua apresentação.

Primeiro, esteja aberto às outras pessoas.

Parece óbvio e natural, mas não é. Não é incomum nos apegarmos ao que imaginamos para o projeto, já elencarmos hipóteses ou empacarmos em nossas “verdades”. Desapegue de tudo isso, pergunte e não fique pensando somente em responder: ouça e gere empatia com os outros.

Segundo, compreenda os perfis e objetivos das pessoas envolvidas no projeto (seja o seu time interno, parceiros e clientes).

Se alguém com papel decisivo no projeto tem a cabeça de “já vendemos tanto, para que mudar?”, você precisará de uma abordagem diferente de quem quer “revolucionar a categoria”. Para além do job, existem cargos, para além dos cargos, existem objetivos pessoais e profissionais – compartilhe-os.

Terceiro, após compreender as pessoas, chegou a hora de envolvê-las no processo, fazendo-as sentir-se, de verdade, parte do projeto, daquela ideia.

Quando a intenção é verdadeira e há predisposição das pessoas para sentirem-se parte daquele projeto/ideia, já temos um projeto, no mínimo, coeso e potencialmente vencedor. Isso ajuda (e muito) a evitar o “não é nada disso” e, de quebra, a ideia fica ainda mais forte (pelas contribuições e pela cumplicidade).

Não há fórmulas mágicas de como fazer estas duas atitudes acontecerem: pode ser desde um whatsapp, do envio de um esboço, de um petit comité ou até um workshop.

Não há tempo? Quem não tem tempo é o atleta competidor de argolas que treina praticamente 4 anos e tem 4 minutos para exitar (de êxito) ou fracassar.

Tá, mas agora eu vou ter que deixar de planejar?

Quem está assistindo o seriado Silicon Valley (ou até um Big Bang Theory) pode ver que tem tido uma espécie de coolzice em cima da Síndrome de Asperger, como até saiu na Wired como a Síndrome do Geek.

Mas na boa, seja menos Richard Hendricks ou Sheldon Cooper e mais Frank Underwood do House of Cards para fazer as ideias e estratégias do time irem adiante. A personagem do Kevin Spacey é uma aula extremamente inspiradora porque, por trás do briefing, muitas pessoas querem muitas coisas.

Aliás, este poderia ser um item do briefing, não? Quais são os objetivos das pessoas envolvidas no projeto? Manter o cargo? Don’t screw up? Revolucionar a categoria? Esperar as 19h? O que mais?

O Underwood é um mestre em articular pessoas e ideias. Apesar dessa personagem ser bem doentia, ele é um puta exemplo de tentar extrair o seu big picture, sua determinação em levar algo adiante e sua sedução para convencer as pessoas certas.

Eu falo isso porque sempre achei mais conveniente ter o mundo próprio, mas isto cada vez mais, na minha opinião e mea culpa, é um handicapnuma formação de planejador.

Portanto, para o seu próximo projeto, quem são as pessoas que vão ajudar a fazer a diferença se você compartilhar suas ideias? Quais são as pessoas que podem ser barreiras e que você precise entender suas razões e crescer com elas?

Seja (sempre) idealista, mas não seja inocente.