Fundador do Unplanned e Diretor de Planejamento na F/Nazca Saatchi Saatchi
Sei que muitas vezes não parece, mas você e sua agência estão juntos.
Sim, muitas vezes os caras das agência são apegados demais pela ideia.
Sensíveis, mimados, folgados e o que mais vocês acharem.
Também sei que o cliente, algumas vezes, é medroso, sem atitude, não corre risco.
É natural, a pressão é grande e a competitividade também.
Com medo de não errar, o cara opta por também não acertar.
Mas a verdade da verdade da verdade é que, no final, as coisas só acontecem mesmo se acontecem para os dois.
Marca ruim não faz nem um nem outro feliz. Nem fama, nem grana.
Se os executivos das empresas confiassem mais nas suas agências, poderiam usar o tempo gasto demasiadamente com o trabalho delas para novas iniciativas do marketing.
Lembro da academia, onde o marketing tinha os tradicionais 4p’s.
Vejo um total abandono ao “P” de produto, de ponto, de preço e um esforço enorme em promover e comunicar.
Deveria ser tarefa do marketing pensar inovação de produto.
Deveria ser também, criatividade em canais, levar seu produto para outro tipo de PDV, outra ocasião de consumo. Criatividade em PDV não é fazer uma gôndola que brilha no escuro.
E o preço?
Em tempos de marcas adormecidas e cultura de varejo aguçada , o preço ganha o jogo.
Garanto a vocês: se chegarem numa boa agência com essas 3 partes bem resolvidas, você terá uma marca valiosa e preferida, que certamente refletirá em milhões de receita para seus cofres.
Se não conseguirem ajeitar preço, distribuição e produto, chamem uma agência para ajudar nisso, e não simplesmente comunicar o feio, o mal resolvido e o incompleto.
Agências modernas tem profissionais (ou deveriam ter?) que sabem pensar estratégia, produto, mercado. Se sua agência não tem e manda um novato sem preparo para trabalhar para você, questione.
Uma agência de propaganda nunca será fornecedor. Ou ela está dentro, ou está fora.
As que estão dentro do negócio do cliente, você conhece de longe a fama.
Tai a Skol, a Havaianas, os Postos Ipiranga para contar essa história.
As que estão fora, circulam.
Cliente não abre a porta, e ela também não faz questão de entrar.
É um jogo parasita. Pega um pouco daqui, um pouco dali e a vida segue.
Sem compromisso.
Quem perde? A gente.
O break na tv é chato demais. Pegue um prime time da emissora número 1 e analise de verdade. Ou a propaganda oferece serviço, diversão, conteúdo ou será rejeitada.
Entra num ouvido e sai no outro.
Dizem que o consumidor não gosta de propaganda. Que propaganda é coisa que só publicitário gosta de ver.
Discordo. Consumidor gosta quando é boa propaganda. Afinal, diverte ou emociona.
Quem não gosta de emoção?
Vamos virar o jogo com 7 movimentos.
1. Faça inovação. Implante o 70, 20, 10.
70% do dinheiro e energia no que é garantido. 20% no que é secundário, mas pode virar.
E invista 10% na loucura. Inovação não é mudar uma virgula do produto. É muito mais.
2. Encare o prazo de maneira coletiva.
Discussão de prazo parece sempre “nós contra eles”. No final das contas, perde o trabalho.
Agencias não devem abusar pedindo meses para trabalhar e, por falta de estrutura, pegar o trabalho apenas na última semana. Clientes, não adianta querer para amanhã uma coisa que vai precisar ajuste ou que não vá funcionar.
Se sentir especial porque sua agência se vira no prazo que você dá, já que investe um caminhão de dinheiro, não é um gesto de esperteza. Talvez você esteja sendo enganado. Pense nisso.
Quando vamos num restaurante, não questionamos o tempo do Chef.
Bons pratos levam bom tempo para fazer. Tome um vinho e relaxe.
Perde a ideia, perde a marca, perde você.
3. Entenda o consumidor além da pesquisa de 100 slides
O que está por trás dos desejos do consumidor?
Não é o que ele fala, e nem só o que ele faz. É o que sente.
Ele não discute filmes no sofá, qual a relevância de discutir o filme com ele.
Vamos discutir os problemas da família dele, ou da comunidade. Ali tem gatilho para comunicar e oferecer serviço.
O que ele sente? O que ele precisa e nem ele sabe?
A diferença entre o século XX para o XXI é que no primeiro fazíamos as pessoas querer as coisas, e agora temos que fazer coisas que as pessoas queiram.
4. Não diga amem.
Uma das expressões mais idiotas da humanidade é que o cliente tem sempre razão.
Afinal, o que é razão?
Ele pode querer do seu jeito, e você talvez tenha que aceitar.
Mas a conseqüência também é dele.
Mostre os cenários. Discuta com argumento, com respeito, com inteligência.
Deixe ele escolher, mas deixe claro as conseqüências de cada caminho ou escolha.
Você não ganhará todas as batalhas mas ganhará no longo prazo. Levar a conversa pra argumentos tecnicos ajudam a construir uma relaçao de confiança.
5. Tenha um plano.
Parece básico, mas quantos de vocês receberam dos seus clientes o plano do ano que vem?
É assustador.
O que vocês ai estão pensando? Para onde vamos?
Se não puder chamar sua agência para participar da concepção, pelo menos chame para dividir seu plano. Faça seu plano, antes de tudo.
Seus pais gastaram fortunas em faculdade para você levar suas técnicas para a vida real.
Acabe com o marasmo, o imediatismo, a natureza reativa do brasileiro.
Planeje.
6. Abaixo a tirania do “Aqui é assim”.
Quantas vezes você ouviu de alguém, já desmotivado, que “aqui na empresa é assim”.
Passividade não gera nada e, como diria Cartola, chegarás num “abismo que cavaste com teus pés”. Você aceita tudo, deixa quieto e quando forem analisar seu trabalho verão que tanto faz você ou outra pessoa. Tchau.
Um dia as empresas fodas também foram “assim”. Alguém foi lá e fez.
Conheço exemplos de contas que estavam paradas em algumas agências e o fator humano desequilibrou. Estava lá, jogada, alguém pegou e fez.
7. Converse como pessoas fazem
Muito email e pouco olho no olho.
Muita reunião e pouca conversa.
Em vez de se reunir, marque um papo. Devanear sobre o trabalho, sobre a empresa, sobre a relação. Se casais precisam conversar, clientes e agencias também. É um casamento.
Deixamos para falar quando algo está errado. Fale sempre.
Dê feedback, ensine, aprenda. Se relacione.
A mágica entre pessoas muda o jogo.
Vamos subir o sarrafo, conte com a gente.
Questione, cobre, mas faça a sua parte.
Estamos juntos.