Vice-Presidente de Criação da Africa
Se eu pudesse definir o SxSW – festival multimídia realizado essa semana em Austin, no Texas – em uma palavra, seria convergência.
Só que esse termo, que já virou clichê no meio publicitário, ganha um significado infinitamente maior e mais verdadeiro por aqui. Pois como não é apenas um evento de comunicação, o debate não gira em torno somente da convergência entre as mídias – ou seja, de como uma mesma mensagem pode ser distribuída simultaneamente para todos os meios (TV, Mídia Impressa, Redes Sociais, Mobile etc). Isso também faz parte do assunto, mas está longe de ser o subject da mensagem do festival.
Enquanto a indústria da propaganda adora premiar os trabalhos do ano anterior, aqui o foco é no que vai acontecer ano que vem. Em Cannes as agências e empresas jamais contariam pro mercado todo qual é a próxima campanha que vão lançar, mas no SxSW o "olha o que eu fiz" perde de goleada pro "olha o que eu estou fazendo".
Afinal, em vez de presentear o passado, as startups querem ser o presente de um futuro promissor. E se no mercado de comunicação todos guardam seus segredos a sete chaves para depois surpreender a concorrência, aqui se conta tudo antes pra tentar juntar o maior número de pessoas em torno da sua ideia. Ou seja, em vez de apenas ganharem dos concorrentes, elas precisam antes ganhar colaboradores – e aí a verba vale menos que o verbo.
Mas esse sistema colaborativo só atinge seu potencial máximo quando uma ideia consegue cooptar pessoas – quiçá, empresas – de fora do seu próprio ecossistema. E o que se vê cada vez mais por aqui são projetos que misturam filme com tecnologia, com engenharia, com física, com química, com culinária, com biologia... E assim a expressão "ação integrada" vai ganhando uma nova dimensão.
Um bom exemplo é o que a startup japonesa Grid Vrick fez: misturou arquitetura e engenharia com um brinquedo de criança e montou um dispositivo conectado ao computador onde qualquer pessoa pode montar uma maquete virtual com peças de Lego enquanto vê sua casa aparecendo em 3D na tela – e depois ainda pode dar um passeio por dentro dela usando um óculos.
Sem falar em ações mais complexas como a dos cientistas que, depois de mapearem o DNA humano, estão agora mapeando o de eucaliptos para cruzar com o DNA de vagalumes e criar árvores que iluminam a rua à noite para economizar energia. Além do projeto da Nasa de construir sua base em Marte montando lá uma impressora 3D gigante que vai receber comandos aqui da Terra e imprimir as paredes da estação espacial com o terreno do próprio planeta.
Por essas e outras, a clássica pergunta "você é de Exatas, Humanas ou Biológicas?" em breve não fará o menor sentido, pois essas três áreas estão, rapidamente, virando uma só. E com a ajuda de novos acessórios como a inteligência artificial, em vez de apenas criarem produtos e serviços para melhorar a vida das pessoas, as empresas agora querem criar pessoas melhores.
Enquanto alguns têm medo de que os robôs se transformem em pessoas, o que está acontecendo, na verdade, é exatamente o inverso: as pessoas é que estão se robotizando. E o termo "realidade virtual" já está quase virando pleonasmo.
Mas uma coisa jamais mudará: por trás de tudo, sempre haverá uma boa ideia. E isso, me desculpem os robôs, ninguém nunca fará melhor do que nós humanos.
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Autorizado pelo autor. Original em https://www.linkedin.com/pulse/o-fim-das-exatas-humanas-e-biol%C3%B3gicas-eco-moliterno