Melhores que você

POR

Rapha Barreto

Strategic Planning VP na FCB Brazil

Numa convenção de vendas de um dos meus clientes, os melhores vendedores do ano eram homenageados por sua performance excepcional. Três ou quatro deles subiram ao palco e recebiam abraços e elogios vindos diretamente do Presidente e do Vice Presidente Comercial.

Este último, um homem alto, grisalho e de sorriso permanente e sincero, se ajoelha, pede para um dos vendedores colocar seu pé na perna dele e ganha um “lustro” entusiasmado no seu sapato, numa demonstração de carinho e respeito. O “craque” do ano, consagrado como deveria. A platéia veio abaixo. Foi o momento mais bonito de toda convenção.

Achei uma demonstração sobre a boa humanidade. Não era um rito de passagem, mas ali estava a tranquilidade de um homem em reconhecer que quem vem chegando é tão bom ou melhor do que ele.

Passei esses tempos por situação parecida. Mudei de emprego e, por ironias do destino, uma das minhas primeiras missões era ganhar uma concorrência da minha agência anterior. Logo, num âmbito pessoal, isolando aqui outros fatores e pessoas, eu me tornei adversário da minha antiga equipe, que eu mesmo ajudei a formar ao longo de quase 4 anos. Muitas histórias juntos, derrotas e vitórias. E, de repente, tenho que derrotá-los. Porém, perdi. Foram eles que ganharam de mim.

Fiquei bravo e triste, como sempre acontece quando perco. Afinal, isso é o meu trabalho, um negócio que amo. Nos esforçamos muito, acreditávamos na proposta, achávamos que o nosso era melhor. Não era. C’est la vie. Depois da notícia – e da tiração de sarro branca por parte deles – fiquei pensando numa pergunta, em loop: “Se eu estivesse lá, isolando outros fatores, eles teriam ganho?”.

Talvez, não.

Essa resposta parece óbvia, mas ficou como uma bola de pinball na minha cabeça. O que isso significa? A princípio, significa o óbvio: que as pessoas “abaixo” de você podem ser tão boas ou melhores que você. Elas podem estar certas e você pode estar errado. Elas podem ser mais criativas que você. Seu estagiário, com algum tempo e paciência, pode estar escrevendo melhores conceitos que você.

E tudo bem, certo?

Depende. Em tese, é muito bom quando isso acontece, onde a melhor ideia vem de qualquer lugar, mas fiquei pensando nas consequências de uma sequência de fatos como essa, especialmente para mentes fracas que rondam o mundo (e escritórios). Inveja, fraqueza, a sabotagem do crescimento alheio. Isso pode acontecer mais do que imaginamos.

Dizem que a “felicidade só existe quando compartilhada”. Entretanto, será que as pessoas tem seus egos preparados a aplicar a mesma ideia ao sucesso alheio? Sucesso só é sucesso quando compartilhado? Talvez o problema esteja na resposta do inconsciente coletivo a esta pergunta: “Não. Não, obrigatoriamente”.

É para se pensar mesmo. Será que o mundo está fadado ao egocentrismo?

Me senti aliviado. Fiquei feliz por eles, apesar da derrota. Porém, o mais legal foi quando os vencedores vieram, carinhosamente, cada um a sua forma, me consolando, me dizendo que eu fazia parte daquilo de alguma forma. É mentira, claro. Uma mentira cheia de bondade. Achei muito gostoso como tinham o desejo real de me fazer parte de um sucesso que nem meu é. Apesar de triste por ter perdido, não pude fugir do fato de estar orgulhoso deles, por terem batalhado e vencido, sim, mas muito melhor, muito mais gratificante, foi me darem a certeza que escolhi muito bem as pessoas daquele grupo. Craques carinhosos, de egos controlados, que entendem que o sucesso é mais sucesso quando é compartilhado.

Que bom que tem tanta gente tão boa ou melhor que você no mundo. E agora, peço licença a vocês, leitores, e lustrar por aqui mesmo a chuteira deles, publicamente 

(ah, mas saibam: não pretendo virar freguês)