E se 2017 fosse o ano de encarar? 
Coragem, publicitários. Feliz Ano Novo

POR

André Foresti

Fundador do Unplanned e Diretor de Planejamento na F/Nazca Saatchi Saatchi

E se a gente desplanejasse uma agência? Hackeasse o modelo.

E se a gente parasse de usar a crise econômica como cortina de fumaça pra verdadeira crise de relevância do modelo?

E se nosso produto parasse de interromper as pessoas?

E se a gente tivesse consciência que intermediar não é mais o jogo?

E se os executivos que rodam o mundo nos mais famosos cursos de gestão conseguissem implantar algo e não simplesmente postar que estiveram lá?

E se o conteúdo começasse a ter conteúdo? Gerar interesse de verdade. Ter um papel.

E se a gente abrisse os olhos e parasse de se retroalimentar da nossa bolha?

E se fôssemos mais produtivos, trabalhando mais em menos horas assumindo que a criatividade se alimenta da vida? Trabalhar sério. Ambiente descontraído não quer dizer trabalho pouco técnico. Mas trabalhar e viver. E não viver para trabalhar.

E se a gente redefinisse o conceito de criatividade, entendendo que as pessoas mais criativas do mundo cada vez estão mais distantes das nossas empresas?

E se ninguém quiser mais trabalhar nisso?

E se aprendêssemos práticas de gestão em outras indústrias?

E se tivéssemos planos para a carreira das pessoas como a indústria ou empresas de tecnologia tem?

E se deixássemos de usar potencial máximo apenas em concorrências priorizando clientes da casa? E se eles entendessem que os beneficiados do pitch de hoje são exatamente os que vão receber menos atenção no pitch de amanhã?

E se as ideias estivessem acima dos processos?

E se a gente dividisse tudo? Lucro, dor, decisão. Menos paternalismo e mais pertencimento. Na cobrança e na celebração.

E se a gente aceitasse que o melhor jeito de crescer é fragmentado, sendo curador e investidor de negócios que colaborem com o nosso ecossistema? Que spin offs são o caminho?

E se a liderança fosse descentralizada? E o ambiente fosse mais cocriativo?

E se abolíssemos departamentos conhecidos? 


E se caísse a ficha que realidades imersivas, 3D, automação, inteligência artificial, genética, bitcoin e outras coisas não são coisas do Black Mirror?

E se de uma vez por todas a gente não ficasse tão bobo com prêmios que na verdade são produtos?

E se a gente não tivesse medo dos rebeldes? Ou dos diferentes? Viva a diversidade.

E se a gente não tivesse esperança que protecionismo é o que vai nos garantir?

E se a gente fosse mais estudioso e entendesse o ecossistema maravilhoso que está se criando ao redor das marcas e as agências nem sempre estão na conversa?

E se ficasse claro o posicionamento de cada agência e o motivo pelo qual o telefone dela toca?

E se a gente mudasse o jeito de ganhar grana? Encolhendo talvez, mas ficando mais relevante?

E se ideias bacaninhas não fosse o que nos movesse? Se o need humano estivesse realmente no centro? (ver Human Centered Design: IDEO)

E se a gente unisse lado direito e esquerdo do cérebro. Dados sim, intuição também?

Se assumíssemos que imagem não é tudo? Aliás, até é. Mas imagem não se constrói mais por mensagens faladas ou jogo de retórica e sim por ações.

E se não existisse salário, no que você trabalharia, por exemplo?

E se a gente soubesse que cada vez mais vamos trabalhar por projetos e que não há garantias?

E se, por mais que doa, a gente assumisse que o velho planejamento deixou tudo chato demais e que hoje em dia o negócio é ser mais Unplanned que nunca?

E se contássemos pras marcas que elas não são psicólogas das pessoas? Que elas tem um papel na sociedade, de transformação real e não de autoajuda inútil.

E se não existisse mais o nós e eles, e o cliente participasse de tudo?

E se a gente pudesse mensurar coisas e não apenas a mídia?

E se nos convidassem a pensar o longo prazo das marcas?

E se a gente humildemente assumisse que realmente não entende muito do negócio do cliente, no máximo ajuda nas vendas e hoje fazer negócio pode estar em achar atalhos e redesenhos para toda a cadeia? Um brinde para a tecnologia.

E se ficasse claro que o bottom é o novo top e a inovação(revolução) pode começar em qualquer lugar, vindo de qualquer parte?

E se a gente ouvisse mais e falasse menos?

E se não tivéssemos compromissos com formatos definidos?

E se a gente saísse do Facebook e respirasse em outras fontes?

Se a gente estudasse pra caramba? Mas muito mesmo. Não tivesse preconceito em ser mais técnico, nerd, ou qualquer coisas dessas. Malandragem, dá um tempo.

E se a gente não se enganasse com os próprios videocases?

E se os líderes das empresas, por mais que estejam na sua zona de conforto, incorporassem um espirito desafiante e comprassem a briga da maioria, sujando as mãos pra mudar o quase imutável?

E se usássemos 10% dos nossos recursos, assim como empresas de ponta, para tentar inovar e achar práticas que possam desafiar nosso sistema?

Um dia alguém construiu esse modelo que venceu até hoje. E se, por eles, pudéssemos reinventar tudo, garantir o futuro e deixar um legado?

E se a mudança fosse de verdade e não mais uma notícia para a revista publicitária ou blog da vez?

E se 2017 fosse o ano de encarar?

E se não fosse tarde demais?

Coragem, publicitários. Feliz Ano Novo