Como o Capitão Planeta influenciou a minha vida

POR

Rapha Barreto

Strategic Planning VP na FCB Brazil

Nós influenciamos comportamento. Porém, o quanto nós mesmos já fomos influenciados?

É uma mania particular pensar nisso. Outro dia, estava refletindo sobre os grandes movimentos que influenciaram a sociedade ao longo da história humana e, de repente, o Capitão Planeta veio voando, pousando no beiral da minha janela. Juro. Fazia tempo que não conversávamos. Juntos, recapitulamos tantos outros desenhos da minha infância e cheguei a uma hipótese meio óbvia, mas divido com vocês minhas ponderações a partir disso.

Nós somos tão sérios e adultos que esquecemos que coisas não sérias e infantis tem um grande poder de influência social, da mesma forma que uma grande guerra, a revolução industrial ou a abolição da escravatura tiveram para remoldarem a sociedade de algum modo. Talvez, no final, a diferença seja a sutileza do seu poder de guiar as mudanças no comportamento de massa, mais parecida com água mole em pedra dura do que uma grande explosão. Talvez.

Só posso imaginar que os desenhistas e produtores do Capitão Planeta saíram diretamente de Woodstock e encontraram uma forma de plantar boas sementes nas nossas cabeças. Flower Power, dude. Lá, através da dinâmica da luta do bem contra o mal, embutiam uma mensagem maravilhosa de sermos responsáveis pelo mundo em que vivemos, de que os recursos naturais são finitos, que ser poluidor é errado e assim por diante. E, aos meus contemporâneos, convido a relembrar tantos outros, que usavam brechas na história e na estrutura de signos para enfiar coisas boas no nosso set de valores morais.

Recapitulem: os malvados sempre moraram em lugares sujos e escuros, mas nos anos 80, havia uma recorrência em comportamentos anti-ecológicos, como o descarte de esgoto tóxico direto nos rios. A fortaleza do Esqueleto é uma referência imediata. Um ultraje ecológico. Assim como, tantas outras “dicas”, embutidas na estrutura da mensagem verbal e não-verbal, que lentamente foram impressas nos nossos cérebros.

O bem e o mal lutando numa cartilha de reciclagem animada.

Estes esforços vieram bem antes de Capitão Planeta. Em menor volume, nos anos 70, já existiam alguns pioneiros do discurso sustentável, como o Spectreman. Para quem não sabe quem é, Spectreman é uma espécie de avô vintage do Jaspion, logo, bisavô dos Power Rangers. Na trama, o malvado Doutor Gore queria destruir os humanos porque – pasmem – nós estávamos destruindo o planeta com a poluição e o desmatamento. Íamos estragar o planeta que ele queria dominar. Ainda mais irônico, criava seus monstros a partir do lixo criado por nós. Detalhe fundamental: na época, Tóquio era a cidade mais poluída do mundo.

O quanto Spectreman teve influência em estimular pessoas pelo mundo a estudar energias limpas? O quanto fomos, de fato, influenciados por este “preparo”, lento e consistente, da nossa consciência ambiental? E quanto as crianças serão mais ativas e saudáveis por influência do Spartacus, do Lazy Town, e suas frutas saudáveis?

Deixo vocês com o texto de abertura do Spectreman, convidando a todos a usarem o seu lento e consistente poder de influência para, pacientemente, ir formando uma sociedade mais e mais evoluída. Por que não, certo?

“Planeta: Terra. Cidade: Tóquio.

Como em todas as metrópoles deste planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição.

E, apesar dos esforços das autoridades de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e as àguas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida.

Quem poderá intervir?

Spectreman!!!”