O Cidade Criativa, Cidade Feliz nasceu em 2013 para ser um festival colaborativo de transformação da pequena Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais (220 km da capital paulista). A iniciativa, sem fins-lucrativos, teve duração de uma semana com atividades diárias, como palestras, shows, cursos e espetáculos. A grande diferença em relação a outros projetos do gênero foi o compartilhamento de recursos não-financeiros entre instituições públicas, academia, iniciativa privada e voluntários. A conexão entre mundos diferentes proporcionou acesso irrestrito à estrutura, conhecimento e pessoas, o que gerou um impacto sem precedentes na cidadezinha de apenas 40 mil habitantes.
Para a primeira edição, bandas passaram a contar com ajuda de profissionais de marketing de empresas de tecnologia do consagrado ecossistema de empreendedorismo tecnológico conhecido como Vale da Eletrônica, grupos de teatro começaram a desfrutar de espaços que antes não tinham tanto acesso, startups passaram a ter influência da economia criativa e a se desenvolver de formas diferentes, e por ai vai. Mas a ideia dos idealizadores ia além. O objetivo era de unir as diversas culturas existentes na cidade para a criação de uma nova, capaz de gerar uma verdadeira transformação criativa em Santa Rita. No ano seguinte, a adesão foi tanta, que rolaram mais de 150 atividades durante todo o mês de agosto. De uma semana, o festival saltou para um mês.
Em 2015, na terceira edição, as diversas frentes de produção começaram a se unir para criar projetos autorais multidisciplinares. O musical Jovens Cada Vez Mais Jovens foi um excelente exemplo. A banda santa-ritense de rock Patronagens se juntou a um grupo teatral e, com ajuda de um grupo de dança e um grupo de coral, escreveu uma peça, compôs as músicas que deram origem ao seu primeiro CD, e o espetáculo teve duas apresentações encerrando a edição do Cidade Criativa, Cidade Feliz daquele ano. Como legado, a cidade passou a ser, certamente a única na região, a oferecer um curso de capacitação para quem deseja atuar em peças musicais. A partir daí o festival se transformou em uma plataforma colaborativa para a criação de produtos criativos. Projetos como o Vale Music, festival de Blues e Jazz que une Café e Comida Mineira na charmosa pracinha da cidade com entrada franca, o festival gastronômico Sabores do Vale, o Hack Town, que vem ganhando projeção nacional, o Festival Festicidade, que vem ajudando uma região periférica a transformar sua cultura local em economia criativa, o Startup Z, que ajuda crianças de escolas públicas da cidade a desenvolver protagonismo e atitude empreendedora, e o Startup Hub Vale da Eletrônica, que uniu as startups de tecnologia do polo, entre diversos outros, todos foram idealizados e validados durante alguma edição do Cidade Criativa.
Em 2015, novos projetos também foram surgindo ao longo do ano, fora do calendário oficial, e tantas novas empresas de economia criativa foram nascendo, que o Cidade Criativa, Cidade Feliz deixou de ser apenas um festival e se tornou um movimento, consolidado em 2016. Em 2017, já aconteceram mais de 300 ações em pouco mais de dois meses de festival - tudo feito com pouco dinheiro, o que é natural em cidades pequenas, mas com muita colaboração e voluntariado. Interessante também é que a gestão de tudo isso não se dá em forma de associação ou algo do tipo. É uma rede descentralizada e conta apenas com facilitadores.
O impacto do Cidade Criativa, Cidade Feliz vem sendo tão grande que o movimento foi citado por grandes especialistas em Cidades Criativas como Lala Deheinzelin, Ana Carla Fonseca e Paulo Tadeu Arantes, como um dos principais cases mundiais neste sentido. E foi reconhecido pelo livro Culture, Creative Industries and Urban Regeneration, publicado este ano na China, como um dos exemplos mais representativos ao redor do mundo. É um projeto colaborativo realmente incrível, mas do qual ouvimos pouco falar.
Para saber mais sobre a iniciativa, vale visitar o site oficial em http://cidadecriativacidadefeliz.com.br/.