Chega de “Pensar fora da caixa”

POR

Tiago Belotte

Aprendedor em tempo integral. Diretor do CoolHow em algumas horas do dia.

“Você precisa pensar fora da caixa.”

Quem me conhece (ou viu minha palestra no Creative Mornings) sabe, essa é uma das frases que eu menos gosto na vida. O motivo é simples: ela funciona como um reforço negativo e traz o problema no lugar que deveria haver uma solução.

Faz pouco, fui ao cinema ver O Quarto de Jack. O filme narra a história de um menino de 5 anos e de sua mãe, eles vivem num espaço de 10 m² sem janelas. Ei, se você não viu o filme ainda, fique tranquilo, aqui não tem nenhum spoiler que não esteja na sinopse. Voltando ao quarto, Jack e Ma estão presos, no entanto, ela faz o garoto acreditar que aquele espaço é o mundo inteiro. Tudo o que aparece na televisão (pessoas, animais, cidades, etc) é falso, pura fantasia. Para o garoto que nasceu lá dentro, a história faz sentido e ele nunca duvida. O problema é quando Ma tenta dizer a Jack a verdade e ele não acredita. O menino acha impossível existir algo fora daqueles tão bem conhecidos 10 m².

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Por isso não gosto de “pense fora da caixa”. Porque a expressão pressupõe que você esteja lá dentro. E uma vez no interior da caixa, vai ficar difícil imaginar algo fora dela. Pense em uma coisa que não seja o John Travolta perdido.

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Viu? O John Travolta não sai da sua cabeça. Nem a maldita caixa.

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Qualquer coisa “fora da caixa” parecerá inatingível, fantasioso ou inexistente, assim como todo o universo era pra Jack. Para ser criativo e inovar — que é o objetivo de quem usa ou ouve essa expressão — pensar não é suficiente, é necessário provar o que há lá fora. Pensar de forma criativa é conectar pontos até então desconectados. Entretanto, os pontos em primeiro lugar precisam existir. Um ponto pode ser uma visita a um museu, uma série, um livro, um curso ou um filme, como O Quarto de Jack.

À soma desses pontos nós chamamos repertório. Se você não se dedicar a construi-lo, não há ao que recorrer nas horas de urgência criativa. Existem várias formas de fazer isso, você só precisa escolher a(s) sua(s). No livro Year of Yes: How to Dance It Out, Stand in the Sun and Be Your Own Person, Shonda Rhimes (autora das séries Grey’s Anatomy e Scandal) conta como dizer SIM para tudo que a deixava apavorada foi uma excelente forma de se livrar de um bloqueio criativo. Por falar em livro, eu conheço uma pessoa que vai à livraria, pega o primeiro exemplar que vê pela frente, paga, vai embora e começa a ler. Não importa o assunto, é algo novo, um novo ponto que pode ser ligado no futuro.

Existem muitas outras maneiras de adquirir repertório, mas na minha opinião, o mais importante é deixar de lado a caixa e se concentrar no fato de que há um universo inteiro para se explorar. E não dá pra fazer isso apenas pensando, você vai precisar utilizar seus pés.

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Não espere a próxima chamada criativa chegar, o dia tá bonito, vamos dar uma volta por aí e aproveitar pra jogar essa caixa fora.

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Autorizado pelo autor. Original em https://www.linkedin.com/pulse/chega-de-pensar-fora-da-caixa-tiago-belotte