Fundador do Unplanned e Diretor de Planejamento na F/Nazca Saatchi Saatchi
Este foi meu segundo ano aqui em Austin.
Ano passado fiquei um pouco incomodado com muita coisa que vi.
Pelo lado bom e pelo lado ruim.
O lado bom é que mostrou um mundo cheio de tecnologia, ferramentas e conectividade social. O lado ruim é que tudo parecia muito “tech” e a abordagem humana ficou coadjuvante no festival.
Pois bem, 2013 as pessoas estavam no centro.
E esse pequeno novo ponto de vista me fez talvez entender tudo que eu tinha visto ano passado e tinha deixado passar.
Amigos, estamos vivendo uma revolução criativa inédita na história.
E não, não é a criatividade que hoje aplicamos no nosso trabalho.
Aqui a criatividade serve para um fim, ela não é a ponta, o orgasmo, a entrega.
Ela é o caminho para algo.
O algo é serviço, o algo é mover gente, o algo é aproximar pessoas.
Qualquer que seja o algo, a criatividade termina nele.
Caiu a ficha.
Não acho saudável profetizar o caos, o fim, o “estamos ferrados” para publicitários (embora eu sinta um pouco isso, e falei com gente que também está saindo daqui apavorado com o desenho de tudo).
Uma visão mais otimista me obriga e dizer que o SxSW 2013 me fez um convite.
Um convite para ver que as pessoas estão precisando de muitas coisas: físicas e psicológicas. Precisam serviço, facilidade, agilidade, conexão. Mas na contra mão, precisam se aproximar, ser mais humanas. Precisam até de um abraço pois a tecnologia que deveria unir está afastando. Carência e falta de felicidade foi tema forte por aqui.
E por isso acabo sendo otimista, pois se as pessoas precisam de tanta coisa, temos um longo caminho de oportunidades para percorrer.
Painel sobre felicidade me fez pensar muito nas empresas do Brasil.
Porque tanta tristeza no dia a dia? Seus clientes são felizes? Vão trabalhar felizes? Estão contentes com o rumo que estão dando pra vida deles, com o que a gente produz? Ou se acostumaram?
Cada pessoa tem o seu dom, o seu desejo, e tem que ir atrás disso.
Dave Grohl ontem mostrou o que é uma obsessão por um objetivo.
Você pensa: ah, mas o cara é músico? Pior ainda! Ser musico é muito mais difícil que ser analista de marketing.
Quem é você? O que você quer? O que você gosta?
“Por mais que minha voz saia uma merda, eu acho ela ótima, afinal, ela ainda é minha voz e é tudo que tenho”. Qual a sua voz? Todos tem uma voz.
Palestra dele poderia ter fechado o Interactive, numa boa.
South by Southwest foi um convite para ver que business não é só ganhar. E sim ganhar e o outro também ganhar. Sustentabilidade não é um logotipo verde. É desenhar uma boa relação em toda cadeia, do fornecedor até mesmo nos benefícios do consumidor, a experiência. Tava lá o CEO do Whole Foods pra abrir as portas da sua sustentabilidade e empresa, uma lição pro mundo.
Porque precisamos um perdedor?
Porque estamos baseados em um modelo de educação da Inglaterra de 100 anos atrás?
A recomendação por aqui é: “diga para seus filhos falarem com estranhos”.
Discutiu-se mídia. Com visões complementares.
Muita gente em meias palavras disse o seguinte: “legal o meio, mas com um bom conteúdo, tanto faz. Os bons conteúdos chegam nas pessoas, de um jeito ou outro”. Por outro lado, outros caras disseram que o conteúdo só vai ser legal se falar com os nichos, porque estamos vivendo em silos.
Um convite a ver que as coisas tem que ser diferentes.
No encerramento do evento, Bruce Sterling, disse que se “Austin nao fosse “Weird” (slogan local) viraria Dallas em 30 dias. Até um escritor de ficção científica sabe mais de posicionamento do que muita gente. Porque nossos clientes querem olhar tanto benchmark? Inovação não tem benchmark nem parâmetro. Aliás, pelo que se falou aqui, ter referencias atrapalha a criação de coisas novas.
Em cada palestra sobre propósito (de empresa e de vida) lembrei daqueles quadrinhos na parede que as consultorias de marca fazem o cliente pendurar. Os longos ppts cheio de psicologia barata, todos iguais, e que nunca vai parar onde deveria:
na cabeça do funcionário e no coração do cliente.
Posso falar? Ter que fazer workshop para encontrar o propósito já mostra que a empresa nunca terá propósito.
Os propósitos vem dos donos, dos lideres, da fundação da empresa.
Behance, Whole Foods, IDEO, Evernote, Happiness…
(dica: assista o máximo de CEO’s possíveis aqui, mesmo de empresas pequenas)
“Aqueles que vivem para a disrupção, morrem por ela”.
Ela não é drive de nada.
O design mesmo começa na história das pessoas. Tai @nest e @jawbone para mostrar.
Tem muito mais assunto. Uma bíblia de assuntos nas zilhões de palestras simultâneas.
Mas o que fica é que o SxSW convidou cada um de nós a se interessar mais.
Se interessar mais pela história dos outros, se interessar mais pela nossa felicidade, por fazer alguma diferença.
Se interessar por movimentar coisas e aproveitar a revolução criativa.
Um slogan call to action, disfarçado de causa, não movimenta nada.
A serendipty começa na atitude e termina no produto (ah, pra eles aqui, serviço também é produto) e até pode ser coroada com a comunicação.
Mas tem muito chão pra rolar até chega lá.
Enfim. Caiu a ficha e um novo rumo é possível e é preciso.
O marketing brasileiro e o mercado de agências de propaganda não pulsa na mesma batida do mundo. A batida de Austin e da revolução criativa.
Estão todos convidados.
Obs:
Desisti de postar sobre SxSW
Minha ideia inicial seria fazer posts sobre os assuntos que veria por aqui, mas mudei no meio do caminho. Acho que muita gente já fez a cobertura do evento, muito bem feita por sinal, e pensei que posso organizar a informação de um outro jeito para que eu possa provocar algumas pessoas a mudar alguma coisa, na prática. Vou trabalhar nisso e divulgo aqui no Unplanned. Meus posts seriam pequenos demais perto do convite que Austin me fez.