#bundamolice, medo nosso de cada dia

POR

André Foresti

Fundador do Unplanned e Diretor de Planejamento na F/Nazca Saatchi Saatchi

“Learn from yesterday, live for today, hope for tomorrow. The important thing is not to stop questioning.” (Albert Einstein)

Você está paralizado? Seus clientes têm medo?
A vida ta meio assim “ok”?
Então esse texto é pra gente.
Precisamos sair da inércia.

Verdade seja dita, a gente precisa de alguns sustos ou incentivos na vida para ter uma nova atitude sobre as coisas.
Seja de saúde, aquele exame médico que mostra que você pode se dar mal se não cuidar mais de você, e a partir dai repensa toda sua vida.
Ou alguma merda no trabalho, que faz com que repense escolhas e até atitudes, que te faça mudar, melhorar ou pelo menos perceber as coisas de outra maneira.

Já usei numa coluna e em palestras o susto do Rick Elias, naquele avião que ia cair e pousou no rio. (Palestra do TED).

Verdade também que nem todo dia tomamos sustos ou choques como estes.
E, infelizmente, na maioria dos dias, ficamos assim, mais do mesmo.

O que é preocupante é que estamos cercados de medos.
Medo de mudar. Medo de fazer diferente.
Medo de aprovar caminhos ousados.
Medo de viajar, de amar, de romper, de arriscar, de aceitar o destino dos sentimentos.
Medo do que o chefe do chefe vai pensar.
Medo de tentar enfrentar a cultura da empresa.
Medo de expor seu lado humano.
Medo de tomar decisão. Medo de escolher.
E quando planejar deveria ser escolher, no fundo estamos até com medo de planejar.

De onde vem o medo? Porque tanto medo hoje?

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman trata desse assunto no “Medo Líquido”. Fala dos medos contemporâneos, uma época de extremas incertezas, como a violência urbana, a sustentabilidade do mundo, o terrorismo, o desemprego e economia decadente.Segundo ele, nos protegemos cada vez mais em casas blindadas, atualização de conteúdos em tempo real, carros blindados e etc, mas nada disso alivia a angustia moderna.Cada vez mais falamos menos com estranhos, e isso nos dá isolamento e rotina.Tentamos controlar as variáveis cada vez mais realmente variáveis e incontroláveis.

O medo normalmente nasce da visão do bem e do mal.
Visão construída.
Porém, nos tempos modernos, cada vez existem menos sinais ou fronteiras entre o certo e o errado que nos permitam separar o bem do mal.
O que por muito tempo nos pareceu libertador (e, de fato é) também nos enche de falta de parâmetros para entender nosso comportamento e o medo surge como conseqüência natural da falta de chão, de nexo, de incapacidade de adaptação as mudanças.

E quanto mais medo temos, mais terceirizamos as escolhas e passos.
Pensa em você? Pensa seu emprego? Pensa os executivos decisores que você lida?
Pensa amigos? Casais? Campanhas aprovadas?
Todo mundo começa a ouvir todo mundo e ninguém banca nada diferente.

É muito louco para a gente de planejamento, que devemos antever as situações, lidar com um mundo que um planejamento de 3 meses muda o tempo todo. Real time marketing. Real time Planning. Cadê seu Deus?

A beleza desse novo mundo, e desse novo Planejamento é ficar com a mão no pulso das coisas, atento a mudança a cada minuto.
Erro, acerto. Não tem outro jeito.
Mas é aí que temos que encontrar o medo, e vencê-lo.
Um lifestyle “Fast Fail” precisa de erro e de acerto. Como vamos errar com tanto medo?
O medo é tão grande que a gente nem erra.

Normalmente a gente planeja coisas pra sentir segurança.
Só que vivemos tempos em que planejar amanhã não dá paz.
Vale pra você na sua vida, e você gerenciando uma marca. Não há certezas.

A única certeza é que você é chamado pra fazer coisas, e que fazer coisas depende de você.
Fator humano faz toda a diferença com a energia que a gente coloca nas coisas (ou não).
Qual a energia que você está colocando nas coisas? Está fazendo o melhor?

O x da questão já não é somente sobre talento, verba, estrutura, status.
É sobre criar uma atmosfera na qual as coisas aconteçam.
Levar a vida e o trabalho como se fosse uma eterna startup.
Reduzir o medo e espalhar coragem.

Coragem pra ver que, no fundo, depende de gente.
Ao apagar das luzes, as empresas sem a gente, são nada.
Tem uma parte do trabalho que não depende de terceiros, depende da gente.

“For the past 33 years, I have looked in the mirror every morning and asked myself: ‘If today were the last day of my life, would I want to do what I am about to do today?’ And whenever the answer has been ‘No’ for too many days in a row, I know I need to change something.”
Steve Jobs

Sempre dá pra fazer diferente.
Ta aí o Sucos do Bem, a Galinha Pintadinha, o Porta dos Fundos, a bike do Itaú, o Destemperados, a Perestroika, o 99Táxis, a Netshoes e muitas empresas que não aceitaram ser como as outras são.

Enfim.
Estamos acostumados a precisar de fatores externos pra mudar de atitude e o segredo é que essa mudança aconteça de dentro para fora.
Diagnosticar a inércia e convidar pra outro mundo.
Um outro mundo que não temos certeza se vai dar certo, mas que temos certeza que não tentar vai nos deixar triste, fraco, comum.
É a hora do travesseiro, quando você deita e sabe se está valendo a pena ou não.

Deve ser muito triste chegar no fim de uma jornada (de vida ou de trabalho) e ver que você pecou por omissão, por não tentar.
Deve ser frustrante.
Espero não chegar nesse dia.

O fato é que o break na televisão está chato.
Os processos estão insuportáveis.
As relações são distantes, por vezes, falsas.
Não tem foco, não tem sinergia, não tem movimento.
A nova safra de publicitários (os bem novos mesmo) não querem mais trabalhar com isso.
Os CEOS já não acreditam nas agencias. (li uma pesquisa essa semana sobre isso)
Os prêmios cada vez mais questionáveis (só ver artigos no mundo todo sobre o assunto)
Existe muito pouco diferencial. No produto e na atitude.
Além do que estamos rindo muito pouco.

É medo. Só pode ser a teoria do Bauman…
Não tem outra explicação para tanta gente estar tão travada em tempos de enormes e gigantes oportunidades.

Bauman termina seu livro que esses temas modernos devem ser revistos para acabar com a origem do medo. Uma retomada da esperança, da expectativa, do equilíbrio estável entre liberdade e segurança.
Precisamos resistir, e reagir.

Os protestos no Brasil, por exemplo, certamente orgulharam todos nós.
São um sintoma do saco cheio da nossa inércia.
Foi histórico, ousado, marcante.
Óbvio que subir no telhado do Congresso Nacional não é o certo. Esse gesto não passaria nem em pré-teste nem em plebiscito.
Mas as vezes precisamos algumas atitudes marcantes, simbólicas, rompedoras.
Quem foram os primeiros a subir lá?
Precisamos de alguns foras-da-lei.
Precisamos de uma inconseqüência saudável.
Nem que seja para abrir a porteira, por onde todos nós vamos passar.

Achou o texto meio “auto-ajuda”? Ok.
Então ajude-se, pois você está no mundo moderno da bundamolice e certamente está cercado de medos em varias instâncias da sua vida.
Se você não tem medo. Seja bem vindo também.
Precisamos que espalhe sua coragem e seu exemplo.
Sei que existem bons exemplos por ai. É disso que precisamos.
Abaixo o medo nosso de cada dia.