Strategic Planning VP na FCB Brazil
Você ama o que faz? Não responda ainda. Eu trabalho numa agência que o D, o P e o Z estão aqui, nesse exato momento, trabalhando, depois de mais de 43 anos dedicados a agência que mudou a publicidade brasileira. É uma dedicação que impressiona. Eles começaram quando as coisas eram mais simples e, hoje, a agência que criaram vive em um tempo que, de vez em quando, parece mais importante o próximo formato de mídia ou a próxima traquitana tecnológica do que uma boa ideia. Em um mundo onde as mídias ou qualquer outra coisa que está fadada a morrer leva o nome de “tradicional”. Em uma lógica onde o layout da apresentação é tão ou mais importante que a ideia impressa na apresentação. E o quanto “de vez em quando” essa sensação te ocorre fica sob seu critério.
Aos que conhecem mestres como o D, o P e o Z sabe que todas essas coisas são muito menos importantes do que uma boa ideia. E parece que todo grande mestre da propaganda pensa ou pensava dessa mesma maneira. E nunca esqueceram disso. Talvez seja por isso que tem tanta gente frustrada no nosso mercado. Talvez seja por isso que se vê cada vez menos amor pela propaganda, onde defender apaixonadamente uma ideia, por vezes, parece uma afronta.
Meu rompante não é um rompante, por assim dizer. É uma sensação de mundo. De um mundo frustrado em não poder ter boas ideias ou que está preso na burocracia hierárquica ou na politicagem. Ou N outros fatores que fazem alguns quererem desistir e abrir uma pousada com um blog descolado, conta de Facebook e logomarca feita pelo amigo diretor de arte (nada contra).
E tem uma coisa no ar que parece fazer do publicitário a pior praga da humanidade. Eu discordo categoricamente dessa bobagem. Júlio Ribeiro, na conferência de planejamento, falou apaixonadamente sobre nossa profissão. E foi revigorante.
Escrevo essas linhas porque hoje acordei e me considerei um cara de sorte. Sou apaixonado por propaganda. Me orgulho de fazer o que faço. E tive, além do trio-mor da propaganda brasileira, outros mestres que me estimularam não só a minha quase obsessão pela boa ideia, mas também muito mais. E que sem eles, dificilmente estaria aqui. Tive um semi-rabugento-semi-fofo-ultra-rigoroso Celso Loducca que nunca admitia algo minimamente frouxo ou que ele conseguisse derrubar. Tem o Flavio Conti que me questiona o tempo inteiro se o jeito que estou fazendo é o melhor jeito. Tive Dalton Pastore que abaixava o óculos e olhava pra mim reto, perguntando placidamente: “Tem certeza disso?”. Tive Cláudio Carillo que me ensinou que pra vender tem que ter paixão por aquilo que apresenta, sem “blasesismo”, a ponto de fazer uma cliente chorar de emoção apresentando uma campanha de endomarketing.
Tenho o Fernando Rodrigues que prova a qualquer egotrip criativo que pensar junto é sempre melhor que separado. Tive Gabi Soares, a mãe-planner, que cuida das ideias e dos funcionários com um carinho arrebatador. Tive a Marô Mello que ama a busca ao detalhe que faz diferença (E sem negrito na apresentação. Se a ideia é boa não precisa de negrito!). Tive a Lu Musa que sabia ser questionadora com uma luva de pelica. Tive muitos mestres, inclusive os meus pais, e todos eles pareciam apaixonados pelo o que faziam.
No final, eu sou um pouco de mim e um pouco de cada um deles. E se você está em crise, primeiro reflita se é apaixonado ou não por fazer propaganda. Afinal, paixão não se ensina. Se ainda é apaixonado, talvez – eu não te conheço – parte da frustração que parece existir esteja no esquecimento, na ausência de que o que se procura é uma grande ideia.
Então, mais do que um rompante, este aqui é um voto sincero para que você se reapaixone por perseguir boas ideias, caso tenha esquecido disso. E não se esqueça dos mestres que se tornaram mestres por nunca terem esquecido disso.
Fonte: Propmark, edição de 16/01/12
Publicado com autorização do autor.