Fundador do Unplanned e Diretor de Planejamento na F/Nazca Saatchi Saatchi
Foi o meu terceiro ano seguido no evento.
Talvez por esse motivo, esse ano encarei a experiência com outros olhos, com outra calma.
Ao voltar para o Brasil vi uma massiva cobertura feita direto de Austin. Li opiniões de experts e marinheiros de primeira viagem pós evento. Vi muita coisa boa, mas muitas obviedades.
O fato é que ano passado já fugi de fazer a cobertura do evento pois o caos do South by Southwest me deixa de certa forma travado por achar que não estou reproduzindo fielmente sua complexidade e relevância.
Meu texto do último ano tentou trazer ao Brasil e aos amigos do Unplanned um recado que o mundo apresentado no festival podia ser um belo caminho para evoluir nossas inquietudes e nosso mercado.
Em 2014 o evento não me sensibilizou tanto assim. Ele amadureceu, acho que eu também.
Não voltei querendo me demitir, nem querendo mudar o mundo.
Voltei com alguns pensamentos. Com bons aprendizados que espero executar.
Aliás, executar é a palavra da vez.
Voltando ao post, achei que um bom jeito de fugir das obviedades de falar que mobile é a bola da vez, que wearables vão dominar o mundo, que segurança foi o assunto ou que existem “dois mundos” que temos que ficar de olho, trouxe minhas anotações aleatórias e despretensiosas.
1. Orkutizamos o Festival. E daí?
Impressionante o número de brasileiros nesse ano. Certamente tinham mais planejadores brasileiros em Austin do que trabalhando em São Paulo naquela semana.
O ponto é que a gente tem mania de criticar tudo aquilo que vira mainstream.
Quase como pra dar um certo status ou ar superior. Aqui isso ainda não será problema, pois o evento em Austin é tão grande que por mais gigante que ele fique, se você for um bom curador e conhecedor, achará bons caminhos para buscar coisas que façam sentido pra você. Eu fico muito feliz de ver uma coisa tão bacana ser difundida e dominada.
Que o Brasil fique um pouco mais perto da filosofia da economia criativa e startups.
2. Quero ver os deslumbradinhos do SxSW fazer algo na vida real O que vi de gente babando pós evento, como se tivesse descoberto a fórmula da Coca Cola, não foi brincadeira. Acho que o evento tem esse poder. Porém, ele só é relevante porque é um evento que mostra pessoas que fazem. Querer parecer diferente por falar sobre tudo que viu e não ajudar a espalhar a cultura de fazer ideias acontecer me parece bem oportunista.
3. Comparações com Cannes não levam a nada.
Uma das máximas que ouvi é sobre uma disputa Cannes X South By.
Acho que as coisas são diferentes e tem espaço pra todo mundo. Não precisamos negar um pra qualificar o outro. Nem falar mal do tradicional pra parecer moderninho defendendo o novo. O único alarme que faço é que estou começando a ver que as pessoas que usam Cannes pra fazer politicagem estão tentando fazer a mesma coisa com o SxSW e o jogo não é por ai. Quem achar que vai pro evento pra badalar ou fazer política vai se dar mal e perder tempo e dinheiro. Esse evento é outra coisa.
4. Não dá mais tempo de colocar as coisas no papel.
Um soco no estômago do planejamento que quer ter controle sobre tudo. O mundo é “Unplanned”. Uma ideia não é mais algo que você pensa e formata para vender. Nem algo que você conta para todo mundo. Uma ideia só é valiosa e considerada uma boa ideia quando é feita. O tempo que você esta pensando no assunto algum japa louco estará colocando na rua. Não há mais tempo de colocar ideias no papel, negócio é colocar na rua e ir corrigindo em tempo real.
5. A conversa já está muito além da tecnologia
Claramente é um festival de tecnologia e tem um monte de assuntos a respeito disso. (vale fuçar na Wired, Fast Company, Buzz Feed, Mashable, Image Think e etc)
Porém uma das contra tendências que vi no Texas foi um debate sobre o quanto a tecnologia sem um pensamento humano pode parecer vazia.
Pessoal dos wearables começa a discutir qual equipamento vai sobreviver quando a pessoa tiver acesso a muitas possibilidades. Resposta: aquela que mudar a vida da pessoa.
Ou seja, voltamos ao ponto de vista planner, dos needs, do poder do hábito, do humano.
Vi papo de drones e robôs, mas vejo uma preocupação sobre substituição de pessoas, desaparecimento de emprego, crise social e etc.
Adoro contratendências do SxSW.
6. O Fim da Mensagem falada
Essa vale especialmente para os publicitários.
Sempre estivemos acostumados a transmitir mensagens para as pessoas com a finalidade de vender nossas marcas e produtos.
A má notícia: a mensagem falada acabou.
Com o mundo digital, as pessoas perceberam o seu poder e ficaram exigentes.
Ninguém mais quer ouvir, todo mundo quer ganhar.
Não basta dizer, tem que oferecer. O quê?
Uma experência, uma vantagem, uma sensação de status ou pertencimento.
Um badge, desconto, acesso exclusivo ou serviço.
Marcas centradas nelas mesmas ou nos seus produtos vão perder. E rápido.
7. Mentalidade de Quarterback Essa foi uma das coisas mais diferentes que ouvi no Texas. O mundo “crowdtudo”, onde tudo é colaborativo, aberto e as pessoas querem participar é realmente maravilhoso. Porém, estamos chegando um ponto que alguém precisa chamar a responsabilidade e correr riscos. Alguém no cliente tem que chamar a responsabilidade. Toda startup bem sucedida tem um líder muito convicto.
8. Qualquer um pode aprender qualquer coisa, questão é ter atitude
Por muito e muito tempo tudo que nossos pais queriam dar pra gente era conhecimento. Livros, escolas, etc. Tudo isso continua muito importante, mas em um mundo com muito acesso a conteúdo, aprender coisas está a uma distância de um click. Sem sair do lugar você pode freqüentar qualquer aula de Harvard ou tutorial do youtube.
Em 3 meses você pode aprender um idioma. Em 5 minutos aprende a escolher vinhos. A fazer camisetas. Enfim, aprende o que quiser.
Hoje você é o que você quiser ser. O ponto central volta para a atitude de querer ser.
São tempos de “Makers”.
9. Que lindo se todos tivessem a confiança dos músicos
Ter uma banda hoje é quase um ato de fé.
Depois do festival interativo rolou um festival de música. Não sei os números oficiais, mas muito mais que 3.000 artistas se apresentaram na pequena Austin.
Como bem disse o pessoal do Foster the People: “Onde tem uma tomada, tem uma banda”.
E o mais incrível é ver a logística de tudo isso. Muitas minivans, muita gente carregando instrumentos pra cima e pra baixo. As vezes atravessam a America para tocar 15 minutos pra 50 pessoas. Acreditando que ali estará um empresário, um formador de opinião.
É louvável ver o quanto de confiança e fé no seu trabalho que esses caras tem.
Inspiração para qualquer um acreditar no que faz.
10. Status em todo lugar
Um evento que era famoso por ser freqüentado por gênios e geeks hoje está repleto de “wanna be’s”. O status disputa o conteúdo. Todo mundo quer dar aquele checkin na atração hypada. Tem um milhão de bares pela cidade, mas na noite que a Mashable faz sua festa oficial, colocou uns banners num dos bares que todas as noites está aberto, neguinho fica 2 horas na fila pra fazer parte disso.
O mesmo acontece com várias palestras. Vai, checkin, e missão cumprida.
O evento famoso por precisar de uma badge pra entrar, acaba virando uma coleção de badges pra sua reputação digital descolada.
Bandas da mesma forma. Muita gente passou a semana falando do show da banda x, disputou, e quando está lá, fica de costas conversando com amigos e nem vê a banda.
Aliás, vi na internet que durante o festival perguntaram pras pessoas sobre bandas que nem existem e todo mundo se mostrou muito animado com o “som dos caras”.
O mundo está numa busca de pertencimento. Austin não escapou.
11. A Batalha de Startups é imperdível
Uma das coisas mais legais do evento é o SxSW Accelerator. Uma competição de novos projetos buscando investidores para virar realidade e crescer. Vários projetos são inscritos e após vários processos de eliminação, os melhores sobem no palco para serem avaliados pela banca julgadora. E o feedback é duro. Isso também me chamou atenção, a forma como nesse mundo tech corporativo ninguém tem medo de perguntar ou parecer estar ofendendo o projeto dos outros. Papo é reto e sério, e levado com bom humor.
Quem quiser ver os vencedores pode clicar aqui.
12. Os melhores conteúdos nao se pega sentado no auditório
O SxSW é incontrolável. Um corpo vivo.
As palestras principais você tem acesso de qualquer lugar do mundo. Só procurar o conteúdo pelo palestrante ou pela hashtag (dica: toda palestra tem uma tag especial).
Já o intercâmbio com projetos, pessoas incríveis, marcas e iniciativas estão bem longe do Convention Center. Certamente algumas das pessoas mais fascinantes do mundo estarão nessa semana no Texas. Basta se mexer.
Por estar mais tranqüilo e sem expectativas esse ano, circulei muito mais que nos anos anteriores e achei essa decisão muito importante para minha experiência.
Vá para o Texas. Mas vá pelo motivo certo.
Para hotéis corporativos, vá pro outro lado do mundo. Nos vemos em 2015, de novo.